É preciso mais do que (poder) ver para crer

Teoricamente, a campanha/promoção atual do jornal “O Estado de São Paulo” chega ao final na próxima segunda-feira, dia 10 de agosto.

Com o mote “Se hoje a informação é de graça, qual o valor do conhecimento?”, o Estadão, mais uma vez, assume uma postura ofensiva em relação às mudanças contemporâneas pelas quais os jornais passam. Vale lembrar que há dois anos, este mesmo jornal veiculou uma campanha bastante controversa, na qual, para ressaltar sua credibilidade, punha em xeque a credibilidade dos blogs. À época, como não poderia deixar de ser, a repercussão na grande rede foi bastante negativa. A campanha, diga-se de passagem, era realmente bastante agressiva e – pior – estupidamente generalizadora.

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A campanha vigente novamente trata de credibilidade – de reafirmar a credibilidade do jornal, na verdade. No entanto, justiça seja feita, esta é tratada de maneira bem mais inteligente, à medida que propõe ao futuro cliente que decida quanto pagar no primeiro mês de assinatura – e que, prolongando o raciocínio, ao desfrutar do conteúdo adquira a percepção de que o valor da mensalidade do periódico é, de fato, condizente com o conhecimento que se recebe.

Dito isto, chego ao ponto que me fez escrever o presente post: a questão da credibilidade na internet – pano de fundo, como já falado, da campanha aqui abordada.

Como é de conhecimento de todos, atualmente a internet permite acesso aos mais diversos tipos de conteúdos, sejam eles áudio, vídeo, imagens, textos, entre outros. Tudo está ao alcance das mãos, ou melhor, dos cliques. E, mais do que ter acesso, podemos, como e quanto quisermos, atuar como produtores de conteúdo.

E, se por um lado, a possibilidade de qualquer um de nós sermos geradores de conteúdo é a grande característica da internet atual, por outro temos de atentar para o fato de que quando todos podem participar, fica difícil, a princípio, conferir credibilidade a todo o conteúdo a que se tem acesso. Como já dito por aqui no post sobre Walter Cronkite, hoje a busca por boa informação não está mais na confiança em um meio, mas sim na busca infindável por algo bom em um mar de mediocridade.

Os jornais, embora passem por um momento de transformação (que, pode-se dizer, tem fortes contornos de crise em muitos países), ainda veem como seu maior ativo a credibilidade que, em geral, lhes é conferida. Segundo dados de pesquisa qualitativa feita pelo Instituto Ipsos Marplan e divulgada durante o 7º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado em agosto do ano passado, os leitores dos jornais impressos ainda o consideram indispensáveis. Segundo este estudo, “o que mais agrada no jornal é que ele é matutino, palpável, tradicional, detalhado e abrangente. São essas características que conferem ao meio o grande pilar que é a credibilidade”.

Já com relação à internet, não podemos deixar de levar em consideração os inúmeros estudos que mostram solidamente o crescimento de seu uso como fonte de informação. Em alguns países, como os EUA, ela já é, inclusive, tida como a principal e mais confiável fonte. Neste contexto, é válido pontuar também a importância do amadurecimento e desenvolvimento da blogosfera – que, além de crescer a cada ano, tem ganhado corpo e buscado, crescentemente, entender e otimizar sua função na conjuntura atual.

Fato é que, no mar de mediocridade que ainda existe na web, gradativamente os conteúdos de qualidade vem à tona. E isso é um processo em curso, que certamente está longe de assumir traços finais, mas que também incontestavelmente já alterou o cenário que tinhamos no início da década de 1990.

Acredito que nem o mais ferrenho jornalista considere as mídias sociais um fenômeno que possa passar batido e que não leve a um rearranjo do cenário de distribuição e busca por conteúdo confiável. Assim como não acho que seja possível ouvir, nem do maior entusiasta da grande rede, que esta trará, futuramente, 100% de material de credibilidade.

Em geral, projeções de um futuro onde jornais e mídias sociais conviverão e serão complementares me parecem as mais plausíveis. E os caminhos que levarão a tal realidade já são conhecidos: aos jornais cabe o exercício de se readaptar, se atualizar; e às mídias sociais, cabe a tarefa de, cada vez mais, produzir conteúdo relevante e diferenciá-lo do lixo que seguir sendo publicado.

Rodrigo Pezzotta

2 Respostas to “É preciso mais do que (poder) ver para crer”


  1. 1 Bruno Soller 07/08/2009 às 09:11

    Rô,

    Parabéns pela iniciativa! O blog está muito bom, com temas muito interessantes.

    Essa congruência entre jornais e mídias sociais parece, aos poucos, já fazer parte da prática, apesar da campanha desastrada do O Estado de São Paulo.

    Muitos jornalistas do próprio “Estadão” possuem blogs na internet, e se utilizam de tal ferramenta, que em sua maioria não possui finalidade comercial, para trazer ao público notícias que por vezes não são do interesse do periódico impresso, dando o sentido de complementariedade clamado por você.

    Acho que estamos no rumo certo! E a principal beneficiada acaba sendo a população, que ganha diferentes meios para sua atualização e opções de fontes de conhecimento.

  2. 2 Renata 10/08/2009 às 00:00

    Iria dizer algo muito próximo do comentário acima.
    O que você falou sobre complemento já é muito visível não só em jornais, mas em tantos outros meios. Porque existe o G1 da Globo e os tantos sites de telejornais com conteúdo que extrapola aqueles 50 ou 60 minutos de William e Fátima, Evaristo e Sandra, Carla e Chico (pois é, vejo jornal a beça nas férias). E também existem os tantos outros portais de revistas que te dão informações complementares (e instigam a visita aos portais na própria matéria impressa). E tbem não podemos esquecer do rádio! Pois acho que um dos exemplos mais claros hoje é a JovemPan Online.

    Enfim, acho que complementaridade não é nem rumo, é fato, já acontece. E acho que também não dá pra você acreditar que um veículo possue loucamente maior credibilidade que outro neste contexto. Calma, existe muita coisa medíocre, como vc mesmo colocou, mas eu não tenho a “ousadia” de achar que internet não é fonte confiável.

    Enfim, fica o comentário.


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